É o que pensa o psicólogo cognitivo Steven Pinker, da Universidade Harvard. Em seu livro mais recente, Stuff of Thought (Coisas do Pensamento, inédito em português), ele escreveu: Mais do que qualquer outra forma de linguagem, xingar recruta nossas faculdades de expressão ao máximo: o poder de combinação da sintaxe; a força evocativa da metáfora e a carga emocional das nossas atitudes, tanto as pensadas quanto impensadas. Traduzindo: palavrões são f*. Tão f* que nem os usamos só para xingar. Eles expressam qualquer emoção indizível, seja ruim, seja boa. Então, se um jogador de futebol grita palavrões depois de marcar um gol, ele não o faz por ser maleducado, mas porque só uma palavra saída direto do sistema límbico consegue transmitir o que ele está sentindo.
Outra prova de eficácia é que eles estreitam nossos laços sociais. Se você xingar alguém gratuitamente e o sujeito não ficar bravo, significa que ele é seu amigo. Daí que grupos de homens adoram usar cumprimentos como Fala, cuzão! Isso deixa claro que todos ali são íntimos. Perceber o xingamento como agressão ou ferramenta social depende do contexto, disse o psicólogo Timothy Jay, da Faculdade de Artes Liberais de Massachusetts, para a revista americana New Scientist. Num vestiário masculino, por exemplo, quem não xinga é o panaca.
Timothy Jay sabe do que está falando. É um expert em palavrões. Ele passou as últimas 3 décadas anotando as sujeiras que ouvia em lugares públicos. Juntou mais de 10 mil ocorrências. E colocou em números cientificamente rigorosos (na medida do possível) aquilo que você já sabia: foda e merda (ou fuck e shit) correspondem à metade de todos os palavrões ditos (em inglês) sem contar suas variantes.
Não é à toa. Como os palavrões nascem na parte primitiva do cérebro, quase todos versam sobre as duas coisas mais básicas da existência:
Veja só. Merda é um palavrão mais ofensivo que mijo, por sua vez mais pesado que cuspe, que nem palavrão é. Se você fosse excretar alguma dessas coisas na rua, essa também seria a ordem de impacto nas outras pessoas do mais para o menos chocante. Coincidência? Não. Não é por acaso que as substâncias que mais dão nojo também sejam vetores de doenças. A reação de repulsa à palavra é o desejo de não tocar ou comer a coisa, afirma o médico americano Val Curtis no livro Is Hygiene in Our Genes? (A Higiene Está nos Nossos Genes?, sem tradução para português).
Se é fácil entender por que excrescências são palavrões, não dá para dizer o mesmo sobre os termos ligados ao sexo. Afinal, sexo é bom, não? Não necessariamente. Ele traz altos riscos, incluindo doenças, exploração, pedofilia e estupro. Esses males deixaram marcas nos nossos costumes e emoções, diz Pinker. Foquemos em estupro. Do ponto de vista evolutivo, ele foi vantajoso para os homens. Pegar mulheres à força permitia que um macho fizesse dezenas, centenas de filhos, coisa que contou pontos no jogo da evolução. Já para as mulheres isso é o inferno. O papel delas é ter poucos, e bons, filhos. Então selecionar o pai é fundamental, e engravidar de alguém que a violentou, um baita prejuízo.
Daí foi natural que a expressão foder alguém virasse sinônimo de fazer um grande mal. Para entender isso melhor, complete a frase João ___ Maria para mostrar que eles transaram, usando apenas uma palavra. Quase todas as opções para preencher a lacuna são palavrões. Já os termos leves para relação sexual sempre carregam a preposição com: você pode dizer que João fez amor com Maria, dormiu com, fez sexo com, transou com... Todos os exemplos indicam que João e Maria participaram do sexo de igual para igual.
Outra prova de eficácia é que eles estreitam nossos laços sociais. Se você xingar alguém gratuitamente e o sujeito não ficar bravo, significa que ele é seu amigo. Daí que grupos de homens adoram usar cumprimentos como Fala, cuzão! Isso deixa claro que todos ali são íntimos. Perceber o xingamento como agressão ou ferramenta social depende do contexto, disse o psicólogo Timothy Jay, da Faculdade de Artes Liberais de Massachusetts, para a revista americana New Scientist. Num vestiário masculino, por exemplo, quem não xinga é o panaca.
Timothy Jay sabe do que está falando. É um expert em palavrões. Ele passou as últimas 3 décadas anotando as sujeiras que ouvia em lugares públicos. Juntou mais de 10 mil ocorrências. E colocou em números cientificamente rigorosos (na medida do possível) aquilo que você já sabia: foda e merda (ou fuck e shit) correspondem à metade de todos os palavrões ditos (em inglês) sem contar suas variantes.
Não é à toa. Como os palavrões nascem na parte primitiva do cérebro, quase todos versam sobre as duas coisas mais básicas da existência:
Veja só. Merda é um palavrão mais ofensivo que mijo, por sua vez mais pesado que cuspe, que nem palavrão é. Se você fosse excretar alguma dessas coisas na rua, essa também seria a ordem de impacto nas outras pessoas do mais para o menos chocante. Coincidência? Não. Não é por acaso que as substâncias que mais dão nojo também sejam vetores de doenças. A reação de repulsa à palavra é o desejo de não tocar ou comer a coisa, afirma o médico americano Val Curtis no livro Is Hygiene in Our Genes? (A Higiene Está nos Nossos Genes?, sem tradução para português).
Se é fácil entender por que excrescências são palavrões, não dá para dizer o mesmo sobre os termos ligados ao sexo. Afinal, sexo é bom, não? Não necessariamente. Ele traz altos riscos, incluindo doenças, exploração, pedofilia e estupro. Esses males deixaram marcas nos nossos costumes e emoções, diz Pinker. Foquemos em estupro. Do ponto de vista evolutivo, ele foi vantajoso para os homens. Pegar mulheres à força permitia que um macho fizesse dezenas, centenas de filhos, coisa que contou pontos no jogo da evolução. Já para as mulheres isso é o inferno. O papel delas é ter poucos, e bons, filhos. Então selecionar o pai é fundamental, e engravidar de alguém que a violentou, um baita prejuízo.
Daí foi natural que a expressão foder alguém virasse sinônimo de fazer um grande mal. Para entender isso melhor, complete a frase João ___ Maria para mostrar que eles transaram, usando apenas uma palavra. Quase todas as opções para preencher a lacuna são palavrões. Já os termos leves para relação sexual sempre carregam a preposição com: você pode dizer que João fez amor com Maria, dormiu com, fez sexo com, transou com... Todos os exemplos indicam que João e Maria participaram do sexo de igual para igual.
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